Saudações, platinados elementos do cardume celestial:
A tristeza e depressão humanas não conhecem limites. Custa a
crer, mas há gente que ainda não teve a sorte de entrar na nossa corrente e
nadar para o mesmo estuário de paz e harmonia; isto é, muitos são aqueles que
lá conseguem encontrar uma ou outra razão para negar propositadamente a
existência da Pescada.
Um dos argumentos mais usados pelos infiéis é, além de
piegas, logicamente reprovável (como veremos de seguida): se o Universo foi
criado connosco em mente por uma Pescada que nos Ama, como pode haver
sofrimento no mundo? Não deveria o planeta ser uma espécie de viveiro em festa,
onde só acontecem coisas boas e toda a gente nada em sincronizada harmonia?
A verdade é que estes ateus desconhecem a verdadeira
natureza da Pescada: para eles, a Pescada deveria ser realmente benevolente;
isto é, não fazer mal nenhum a ninguém. Não entendem apenas que essa
benevolência infinita INCLUI as desgraças de que tanto se queixam.
Tentemos explicar esta complexa realidade teológica por
palavras que sejam fáceis de compreender por aqueles que não cansam as
barbatanas a estudar os manuscritos sagrados. Imaginem o seguinte: um pequeno
peixe nada alegremente pelo oceano e dá de guelras com uma corrente gelada. Que
medo! Enregelado, o peixe volta para trás e vai nadar para outro lado mais
agradável. Pergunto: como pôde o peixe saber que a corrente era fria?
A resposta é clara: porque a corrente que o transportava
anteriormente era quente. Ora, o peixinho só foi capaz de sentir o gelo da nova
corrente em comparação com a corrente mais quente.
Imaginemos então o mundo que o ateu idealiza: um mundo feito
pela benevolência da Pescada no qual tudo é felicidade, não há dor, nem
tristeza, nem doenças, nem mortes, nem sofrimento, nem tornados, muito menos
correntes frias! Ora vejam: da mesma forma que precisamos da corrente quente e
confortável para medir o quanto está fria a nova corrente, também as desgraças
nos dão a possibilidade de valorizar o que é mesmo bom. Sem a dor, como
poderíamos valorizar a sua ausência?
A lógica deste pensamento é cristalina: experimentem, ao
chegar hoje a casa depois deste sermão, ir até à cozinha e queimar-se no forno.
Depois, tratem da queimadura e deixem-na sarar. Depois, apreciem a maravilhosa
sensação de não vos doer a
queimadura... Estão a ver? É uma bênção da Pescada! Sem uma queimadura
primordial, como poderiam sequer começar a experienciar o êxtase que é não
sentir-se queimados?
No mundo ideal dos ateus estaríamos tão embebidos em
felicidade que não a poderíamos aproveitar devidamente. No mundo real,
precisamos de uns quantos tremores de terra na Indonésia ou uns quantos casos
de cancro infantil para valorizar a casa onde vivemos, a comida na mesa ou a
saúde do nosso cachorro: por outras palavras, a Pescada trama a vida de outros
para que tu, peixinho, valorizes a tua. E se és tu a “vítima” do mal que cai
sobre as tuas barbatanas, nada temas! A Pescada fez de ti um exemplo de
sofrimento para que outros possam valorizar o que têm ao olhar para ti.
Pelas mesmas razões a Pescada colocou uns meninos a nascer
ali em Nova Iorque e outros na Etiópia. Não é que ela ame mais uns que outros
(ela considera-nos a todos uns pecadores igualmente imperdoáveis até lhe
pedirmos desculpa), é só que a Pescada considera que dar umas quantas
dificuldades à sua criação é não só uma excelente forma de esta passar a
valorizar o que já tem (no caso do menino de Nova Iorque, os video-jogos; no
caso do menino da Etiópia, moscas na cara), mas também de testar a sua
capacidade para crer e amar o Peixe-Pai.
Claro que é fácil amar um tipo inteligente
e bem parecido, cheio de dinheiro... Mas quem amará o rapazinho gorducho e com
borbulhas? O amor fácil é falso; o amor verdadeiro provém do sacrifício. Prova
disto é que a Pescada se sacrificou por nós no grelhador, há mais de dois mil
anos atrás, e só ganhando marcas de grelha nas guelras é que a Pescada provou
que gostava muito de nós! Mas desse acontecimento falaremos noutro dia.
Dirá o ateu: “Mas a Teoria da Evolução diz que isso é uma
injustiça!”. Mas quem somos nós para definir o que é justo? Ninguém; relembro
que é a Pescada, ser Criador e Infinitamente Poderoso, quem define a noção de
“justiça”. O ateu que diz que haver tornados e doenças é injusto está a fazer
aquilo que, como bem o sabem, deve ser evitado a todo o custo: duvidar do que a
Pescada nos disse e, pior, partir do princípio que a Pescada criou um mundo
desagradável. Ora, como sabemos que de certezinha que a Pescada é boa para nós,
então o ateu está errado. Perceberam?
Da próxima vez que virem a desgraça alheia respirem fundo e
pensem que esse é um sinal inequívoco da Pescada: valoriza o que tens, porque
amanhã podes ser tu a levar com a minha barbatana na cabeça.
Para a semana cá estaremos de volta.
Até lá, nadem com a Pescada... e cuidado com os anzóis
infiéis que por aí andam!
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